Gabriel Berardi responde ao texto publicado nesta segunda-feira (27) na Folha de São Paulo.
Primeiro, vamos ler na íntegra o artigo publicado na Folha de S.Paulo, em 27/07/2009 – pág.A2:
Editorial de Rogério Gentile
“Morte em duas rodas”
São Paulo – “Pelo menos 19 pessoas morrem diariamente em acidentes de moto no Brasil. É como se, a cada 12 dias, um avião da Air France caísse no Atlântico. Mas ainda é um número muito baixo, perto do que vem por aí.
Contrariando o que pregam dez entre dez técnicos em transporte público, governo e Congresso decidiram adotar medidas que estimulam o tráfego em duas rodas — o mais perigoso que existe, segundo diversos estudos internacionais.
Primeiro, o Planalto criou uma linha absurda e eleitoreira de crédito para quem quiser comprar uma moto. Hoje, com o valor de duas passagens de ônibus por dia (R$ 4,60 em SP), dá para entrar num financiamento e levar uma para casa. É duro conceber sabotagem pior para a organização de uma cidade.
Ficou tão fácil adquirir uma moto que já há estimativas de que em alguns anos as vendas ultrapassarão a de carros no país — em 2008 foram 1,8 milhão de motocicletas contra 2,2 milhoões de carros.
Agora, como se não bastasse, o Senado acaba de legalizar o serviço de mototáxi — só falta Lula assinar para virar lei. Com isso, a previsão é que haverá 1 milhão de mototaxistas e 20 milhões de usuários dentro de um ano e meio no país.
É possível imaginar o que isso representará. Segundo o secretário dos Transportes de São Paulo, Alexandre de Moraes, serão mais de 20 mortes por semana apenas na cidade. Hoje, são nove. Sem contar que, quanto maior o número de motos, mais complicado fica o trânsito, a poluição aumenta (a moto emite 32 vezes mais poluentes por passageiro que o ônibus e 17 vezes mais que o carro), cresce o gasto com combustível etc.
O pior de tudo é que a vietnamização do trânsito ainda ganha apoio do prefeito Gilberto Kassab, que disse ter dado sugestões para o “aperfeiçoamento” de um projeto que regulamenta o serviço na cidade. Só falta ele retomar a brilhante ideia de criar corredores de tráfego exclusivos para motoboys e afins.”
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Segue abaixo texto enviado por Gabriel Berardi, repórter das revistas MOTOCICLISMO e MOTO VERDE, à Folha:
Prezados editores,
Lamentável, mentiroso e altamente preconceituoso. Assim podemos resumir o editorial do senhor Rogério Gentile, publicado na edição desta segunda-feira, na página A2.
Lamentável por dizer que a linha de crédito criada pelo governo federal para quem quiser comprar uma motocicleta é algo absurdo e eleitoreiro, pior ainda é afirmar que isso "é uma sabotagem para a organização de uma cidade". Um comentário infeliz desses nos leva a conclusão de que o Sr. Gentile não utiliza o superlotado, sujo, caro e ineficiente transporte público, ou, se o utiliza (o que duvido muito), com certeza ele não mora na periferia. Gostaria de entender porque oferecer a alguém a possibilidade de adquirir um bem que irá lhe proporcionar economia de tempo, de dinheiro e liberdade de ir e vir deve ser considerado algo ruim. Após ler esse editorial, tenho a impressão de que o raciocínio do excelentíssimo jornalista é mais ou menos o seguinte: "Se não puder ter um carro para te transportar pela cidade, ande de ônibus". Aliás, uma pergunta. O que é mais prejudicial para a "organização de uma cidade", quilômetros e mais quilômetros de automóveis imóveis, parados em engarrafamentos queimando combustível levando, em mais de 70% dos casos, apenas 1 pessoa, ou as motocicletas? Quanto ao mototáxi, pense que São Paulo não é a realidade do Brasil. Em qualquer cidade do interior e inclusive em algumas capitais, recorrer a um mototaxista é algo que faz parte do cotidiano das pessoas há muito tempo. Vamos deixar de ser hipócritas.
Mentiroso por dizer que "quanto maior o número de motos, mais complicado fica o trânsito, a poluição aumenta (a moto emite 32 vezes mais poluentes por passageiro que o ônibus e 17 vezes mais que o carro), cresce o gasto com combustível etc." Além de preconceituoso, o Sr. Gentile mostra-se profundamente mal informado. Será que ele já ouviu falar de PROMOT 3? Com certeza não. O Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Similares começou em 2002, e em 2009, acaba de chegar à sua 3ª fase o que praticamente igualou o nível de emissão de poluentes pelas motocicletas com aquele dos automóveis. Em alguns casos a motocicleta polui muito menos que um automóvel, como é o caso do CO² (dióxido de carbono), um dos maiores responsáveis pelo aquecimento global. Segundo a CETESB, um carro emite três vezes mais CO², por km rodado, que uma motocicleta. Isso sem falar que, com os congestionamentos, os carros levam horas para percorrer poucos quilômetros. Enquanto isso, as motos já chegaram a seu destino e tiveram seus motores desligados. Outra coisa: "poluentes por passageiro". Não sei em que cidade o autor mora, mas pelo menos aqui em São Paulo, dois terços dos automóveis rodam com 1 ou, no máximo 2 passageiros. Cresce o gasto com combustível? Essa foi a pior de todas. Comparando uma motocicleta de 250 cm³ a gasolina com um automóvel de 1000 cm³ a gasolina, quem percorre cerca de 60 km por dia no percurso casa/trabalho/casa economiza em 11 meses (considerando que durante um mês a pessoa está de férias) :
Tempo: 5 dias, 5h52
Dinheiro: R$ 2 470,00
Gasolina: 1078,48 litros
Emissão de poluentes: 1 777 kg de CO²
Preconceituoso. Basta ler esse infeliz editorial para notar que o autor jamais sentou em uma motocicleta, para ver que ele não tem a mínima idéia do que é pilotar uma motocicleta, para perceber que ele não sabe nada sobre o mercado de motocicletas e que não conhece, em absoluto, quem são os motociclistas. “Só falta ele retomar a brilhante ideia de criar corredores de tráfego exclusivo para motoboys e afins”. Essa frase resume bem a visão deturpada do autor. Se ele prestasse mais atenção, veria que a motocicleta há muito tempo deixou de ser um veículo utilizado apenas por motoboys. Cada vez mais pessoas estão recorrendo à agilidade e economia da motocicleta — o que já é comum nos mercados europeus —, principalmente nos grandes centros urbanos carentes de vagas de estacionamento, completamente engarrafados e com transporte público deficiente (e caro!).
É absolutamente frustrante ver um editorial dessa natureza na Folha de S.Paulo, jornal que respeito e do qual sou assinante. Pelo visto, é mais um meio de comunicação que aposta no sensacionalismo para atrair leitores ávidos pela desgraça alheia... afinal, o que esperar de um título como “Morte em duas rodas”. Porque não dar o mesmo espaço para mostrar o lado positivo desse meio de transporte eficiente, prático e barato? Porque não mostrar as vantagens da motocicleta sobre os automóveis? Além disso, acredito que o autor e o próprio jornal prestariam um serviço muito maior à sociedade se utilizassem o alcance desse jornal e seu poder como formadores de opinião para outras iniciativas, como, por exemplo, uma campanha para baixar impostos de equipamentos de segurança — jaquetas, botas, capacetes etc —, aumentando a proteção contra ferimentos em caso de queda. A imprudência de alguns motociclistas causa acidentes fatais? Sim, muitos... mas não é só isso.
Os buracos nas ruas, as faixas de sinalização escorregadias pintadas no asfalto, os guard-rails que seguram os carros e caminhões mas que são uma guilhotina para quem anda de moto, as linhas de pipa com cerol e a imprudência e falta de respeito dos demais veículos com as motos também provocam MUITAS mortes...mas ninguém fala disso. Poderíamos falar ainda da ridícula instrução oferecida pelas “moto-escolas”, pelo comércio descarado de habilitações, pelos absurdos índices de roubo de motos e pior, do comércio descarado de peças roubadas, das máfias dos leilões. Mas, aparentemente, falar sobre qualquer dos assuntos acima exige pesquisa, correr alguns riscos etc, portanto, melhor deixar para lá e falar de quantas dezenas de motociclistas morrem por dia.
Triste.
Espero apenas expor um ponto de vista diferente daquele publicado. Tenho certeza que outros motociclistas e pessoas coerentes concordam comigo.
Atenciosamente,
Gabriel Berardi
Fonte: Motociclismo Online Terra
ATENÇÃO
Se o motociclismo é o seu hobby favorito; se ao menos uma vez por semana você precisa reunir-se com seus amigos para um passeio de moto; se você já carregou nas costas o peso dos brasões de vários clubes ou está seriamente pré disposto a arcar com a responsabilidade de formar um novo motoclube; se você passa a semana inteira não aguentando esperar até o sábado para vestir seu colete, ou passa a semana indo trabalhar de carro e não vê a hora de pegar a sua moto no fim de semana; se você é consciente o suficiente para não pegar a estrada com mau tempo ou para não rodar sob efeito de álcool ou entorpecentes; se você exige ser rotulado de "motociclista" ou se você passa mais tempo em frente ao computador do que sobre duas rodas, e isso te incomoda... desculpe, seu lugar definitivamente não é aqui e talvez você se sinta desconfortável sabendo que para nós você não passa de um elo fraco dessa corrente. Portanto, meu conselho... IGNORE ESTE BLOG!
Dan
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