ATENÇÃO

Se o motociclismo é o seu hobby favorito; se ao menos uma vez por semana você precisa reunir-se com seus amigos para um passeio de moto; se você já carregou nas costas o peso dos brasões de vários clubes ou está seriamente pré disposto a arcar com a responsabilidade de formar um novo motoclube; se você passa a semana inteira não aguentando esperar até o sábado para vestir seu colete, ou passa a semana indo trabalhar de carro e não vê a hora de pegar a sua moto no fim de semana; se você é consciente o suficiente para não pegar a estrada com mau tempo ou para não rodar sob efeito de álcool ou entorpecentes; se você exige ser rotulado de "motociclista" ou se você passa mais tempo em frente ao computador do que sobre duas rodas, e isso te incomoda... desculpe, seu lugar definitivamente não é aqui e talvez você se sinta desconfortável sabendo que para nós você não passa de um elo fraco dessa corrente. Portanto, meu conselho... IGNORE ESTE BLOG!

Dan

21/05/2009

Breve Historia dos Moto Clubes Outlaw

Caros leitores do blog

Faz um tempo estive engajado numa busca por algum artigo sobre as origens do motociclismo outlaw, dos moto clubes e do estilo de vida que nós hoje adotamos, de um ponto de vista mais histórico, desmistificando as lendas que foram criadas sobre o assunto.
Foi então que encontrei este artigo, muito bem escrito por William L. Dulaney, e publicado no International Journal of Motorcycle Studies.
É um pouco extenso, devido às minuciosidades que devem ser abordadas para explicar todo um contexto histórico, mas vale muito a pena ler (e eu também não gostaria que o puta trampo que tive para traduzir fosse em vão).
Estive em contato com o web site IJMS e eles muito gentilmente entraram em contato com o autor, William Dulaney e ambos autorizaram a sua tradução e publicação neste blog.

"I'm sincerely grateful and would like to post special thanks to Suzane Ferris, from the International Journal of Motorcycle Studies and William Dulaney for authorizing this translation and it's posting in this blog"


Breve Historia dos Moto Clubes Outlaw

Por William L. Dulaney
Fonte: International Journal of Motorcycle Studies
Tradução: Dan PRYMUS M.C.


Há pouco trabalho acadêmico de pesquisa sobre os motoclubes e as pesquisas existentes tentam explorar fatos de modo a alertar as pessoas sobre o perigo dos clubes, pintam uma imagem dos integrantes de clubes sob o ponto de vista da mídia, contam mitos e elucidam a cultura biker. *1 Tais escritos revelam lacunas que deixam muitas questões sem resposta: De onde vem os clubes “Outlaw” (N. do t.: “Outlaw” tradução literal: fora-da-lei)? Como começaram? Como ou por quê eles evoluíram para supostas organizações criminosas internacionais? As poucas histórias sobre os motoclubes outlaw datam a origem dos clubes por volta de 1947 e tendem a simplificar demais os porquês desses clubes terem se formado e quem realmente foram as pessoas que os reuniram. Tais histórias são baseadas em fatos de natureza duvidosa, o que traz descrédito às origens da subcultura e rebaixam os integrantes dos primeiros clubes ao status de “revoltados que andavam à margem da sociedade e antisociais que procuravam confusão” (Valentine 147). Este artigo estende as pesquisas atuais até por volta de meio século antes de 1947, relacionando os primórdios dos motoclubes com a presente realidade dos mesmos. O objetivo maior do artigo é fornecer uma história mais abrangente, uma história da evolução dos clubes, a fim de permitir uma melhor compreensão da subcultura motociclística.

A seguir temos uma taxonomia de fatores sociais e históricos que afetaram a formação de grupos e motoclubes de acordo com uma classificação temporal:

1. Período de pré formação: 1901-1944, a gênese da organização social do motociclismo.

2. Período de formação: 1945-1957, eventos sociais e históricos pós Segunda Guerra Mundial, período de consolidação dos moto clubes outlaw.

3. Período de transformação: 1958-presente.

Para sustentar as afirmações feitas a respeito do primeiro e segundo períodos históricos mencionados neste ensaio foram feitas entrevistas detalhadas e histórias pessoais de integrantes muito antigos de moto clubes outlaw 1% e não-1%.
Este estudo etnográfico, conduzido pelo autor, foi realizado em sua maior parte no sudeste dos EUA (nos estados da Florida, Georgia, Mississipi, Alabama, Louisiana, North Carolina, South Carolina, Tennessee, Kentucky, e West Virginia), no período de Junho de 2000 a Maio de 2004, mas observações de participantes posteriores foram feitas também no Texas, New York, Indiana, Ohio, Arkansas, Utah, Arizona e California, ao frequentar reuniões regionais e nacionais de clubes. *2 Por último, uma observação é apropriada. Para os propósitos deste ensaio, o termo outlaw é utilizado para fazer referência às organizações motociclísticas não afiliadas à American Motorcyclist Association (AMA) e também é o nome de um moto clube específico (Outlaws Motorcycle Club). É importante mencionar que para propósitos deste ensaio, o termo outlaw de nenhuma forma tenciona referir-se a “violar a lei”. Entretanto, quando usado para descrever moto clubes 1%, definidos em detalhes mais adiante, o termo, geralmente, tende a assumir um tom pejorativo. Não é intenção do autor sugerir que o termo outlaw é sinônimo de comportamento ilegal; ao invés disso, o propósito é traçar diferenças e semelhanças entre clubes outlaw e clubes 1%.

Período de pré-formação: 1901-1944
O motociclismo, um tipo de variação Darwiniana na evolução do ciclismo, teve origem com a difusão em larga escala do transporte motorizado nos EUA. No fim do século 19 e começo do século 20 houve um fomento na difusão internacional da bicicleta. Esses veículos relativamente baratos eram comercializados para uma grande variedade de usos, desde entregas a atividades de lazer, e também eram a solução mais adotada para os problemas de transporte em massa das grandes cidades. Os fabricantes de bicicletas vinham testando versões motorizadas pelo menos desde 1894, mas o primeiro esboço do que um dia viria se tornar a motocicleta veio a ser apresentado em larga escala ao público americano somente após a virada do século, durante corridas de bicicletas (Sucher). Na verdade, até a década de 1920, as corridas de bicicletas eram o esporte mais popular nos EUA e arrastavam mais espectadores do que qualquer outro esporte profissional, inclusive o baseball (Nye). Na Europa, os Velodromes tinham painéis onde os campeões ficavam registrados já em 1893, e o primeiro Tour de France foi disputado em 1903 (Perry). Os campeões das corridas americanas eram fabricantes de bicicletas, como George Hendee, um ex-campeão de corridas de bicicletas que realizou eventos por toda a região de New England e outras localidades (Sucher).
No começo do século 20 a fabricação e o design das bicicletas, assim como as habilidades físicas do atleta, tinham atingido um ponto onde a aerodinâmica já era um fator de maior importância nas corridas (Page). As bicicletas tandem (para duas pessoas) passaram, então, a ser equipadas com o motor francês DeDion-Buton, refrigerado a ar e com combustão interna, com o objetivo de impulsionar a bicicleta a uma velocidade permitida, à frente dos outros competidores. Os “pacers”, como eram conhecidos, possibilitavam aos corredores planar, graças ao efeito de vácuo atrás do veículo quando este cortava o ar (Nye, Sucher). Os pacers eram difíceis de operar e duas pessoas eram necessárias, o corredor da frente era o piloto, enquanto o de trás era um engenheiro que tinha que ajustar constantemente o fluxo de combustível que passava pelo primitivo carburador para conseguir manter uma velocidade constante. Os motores utilizados para impulsionar os pacers não eram muito confiáveis e, muitas vezes, quebravam durante a corrida, em grande parte devido à alimentação de combustível inadequada dos carburadores franceses. Obviamente isso era constante motivo de preocupação, já que era uma frustração tanto para os corredores, que tinham seu desempenho prejudicado quanto para os espectadores pagantes, e resultava em situações vergonhosas para os organizadores das corridas, como Hendee. A solução para esse problema veio de um metalúrgico novato e fabricante e designer autodidata de bicicletas chamado Oscar Hedstrom. Hedstrom começou a modificar os motores monocilindros e os carburadores utilizados nos pacers e logo ganhou reputação por produzir bicicletas confiáveis. Hendee e Hedstrom formaram uma parceria e os dois organizaram uma série de corridas bem sucedidas por toda a região da Nova Inglaterra, nos EUA.

A parceria de Hendee/Hedstrom logo se tornou uma sociedade profissional que culminou na produção do que pode ser visto como a primeira motocicleta confiável americana fabricada em série. Desta forma tem inicio o período de pré-formação dos moto clubes outlaw, em 1901, quando Hendee e Hedstrom fundaram a Indian Motocycle Company e começaram a vender bicicletas motorizadas para o público em geral (A Harley-Davidson Motor Company viria a ser formada dois anos depois). No rastro da difusão das motos americanas veio a formação de associações motociclísticas e dos clubes. Um dos primeiros clubes conhecidos era o New York Motorcycle Club, que, em parceria com o Alpha Motorcycle Club do Brooklyn, formou a Federação de Motociclistas Americanos (Federation of American Motorcyclists – FAM) em 1903 (AMA). O foco da FAM consistia em aprimorar as condições de dirigibilidade sob as quais o motociclista operava a sua máquina. Na verdade, o Artigo I, sessão 2 do estatuto da FAM diz:
O objetivo da Federação deve ser encorajar o uso de motocicletas e promover o interesse pelo motociclismo; assegurar, defender e proteger os direitos dos motociclistas; facilitar o transporte com motos; dar assistência nos movimentos por melhores estradas e dar assistência na regulamentação das corridas de motocicletas e outras competições nas quais as motocicletas participem. (AMA)
Outros fabricantes de motos, como a Excelsior, Henderson, Ace e Pope tiveram muito boas vendas no mercado americano desde o começo do século até o fim da década de 20.

A motocicletas, originalmente pouco mais do que bicicletas motorizadas, eram relativamente baratas, no começo, para a maioria dos americanos, principalmente quando comparadas ao custo astronômico dos automóveis pré-Ford. Grandes melhorias de projeto em motores e carburadores, junto ao desenvolvimento da transmissão multi-velocidade, sistemas de luz, sistemas de freio mecânicos, quadros e suspensão logo geraram um cenário onde as motos passaram a ser máquinas muito mais sofisticadas e com melhor performance, e que, por sua vez, começavam a custar mais, também. Em apenas duas décadas de século 20 as motos não mais podiam ser consideradas um meio de transporte barato para o consumidor americano. Na metade dos anos 20 o custo de uma Harley ou Indian pequena girava em torno dos U$275, um modelo grande ou big-twin chegava aos U$375 e o preço de um Ford Modelo T era de U$545 (Cuff 229). Os fabricantes de motocicletas não poderiam adivinhar que seguindo as pegadas da década de 20 viria a quebra da bolsa de valores, que os forçou a expandir seus negócios para fora do pais. A Grande Depressão, que veio forte após a quebra de 1929, teve um efeito devastador sobre os fabricantes de motos americanos (Dregni); apenas duas marcas americanas sobreviveram à Grande Depressão: A Indian Motocycle Company e a Harley-Davidson Motor Company.

Talvez a criação de um dos primeiros moto clubes que perdurou, por sinal até os dias de hoje, tenha se dado em 1936. Este grupo tinha o nome de McCook Outlaws, de Cook County, Illinois, que compreende a cidade de Chicago. Os McCook Outlaws mais tarde vieram a se chamar Chicago Outlaws, hoje conhecidos como Outlaws Motorcycle Club (Outlaws Motorcycle Club ou Outlaws MC). De acordo com um integrante dos Outlaws Motorcycle Club, que reside no norte da Florida por mais de 25 anos, ele e os antigos integrantes do clube se reuniam para viagens de longas distâncias que, sobre uma moto operada por embreagem de pé e aceleração de mão, se tornavam verdadeiras aventuras, muitas vezes por estradas não pavimentadas ou em corridas de motos que incluíam serras, pistas de um quarto de milha em trilhas de terra plana e pistas ovais de madeira. Outros passatempos secundários, porém bastante presentes entre os bikers eram o consumo de grandes quantidades de álcool e a libertinagem generalizada. O símbolo dos McCook Outlaws era estampado nas costas dos macacões dos mecânicos e consistia apenas do nome do clube; coletes de couro, brasões e outros símbolos ainda não faziam parte da indumentária. É interessante notar que, de acordo com a história como ela é contada na página web do Outlaws Motorcycle Club, o logo do clube (“Charlie,” um crânio sobre dois pistões com bielas cruzadas, similar à bandeira pirata de Jolly Roger) foi fortemente influenciado pelo visual usado por Marlon Brando no papel de “Johnny” no filme O Selvagem (The Wild One, de 1954 *3).
Um moto clube somente de mulheres, chamado Motormaids, vem sendo reconhecido pela American Motorcyclist Association por mais de 60 anos (a AMA lhes concedeu reconhecimento em 1940). Apesar do Outlaws Motorcycle Club sustentar uma linhagem um pouco mais antiga, eles passaram por pelo menos duas mudanças radicais em sua estrutura organizacional e em sua identidade original durante a sua história. As Motormaids, entretanto, mantiveram uma identidade singular e a mesma estrutura organizacional desde sua fundação, o que pode significar que elas sejam o mais antigo moto clube estruturado no mundo, mais antigo ainda que o conhecido Hells Angels Motorcycle Club, que foi fundado em 1947 e que também mantém a sua identidade original (Barger, Zimmerman e Zimmerman).
O ataque das tropas japonesas a Pearl Harbor, que impulsionou o envolvimento americano na Segunda Guerra Mundial e o resultante alistamento militar compulsivo de jovens americanos freou bruscamente a difusão dos moto clubes pelo país. Entretanto, o som de bombas explodindo em Pearl Harbor estava longe de significar a morte dos moto clubes.

Período de formação: 1945-1947
No fim da Segunda Guerra Mundial tropas inteiras de jovens soldados voltavam do combate. Muitos acharam a transição para uma pacata vida civil uma tarefa monótona demais. Alguns veteranos tinham recebido treinamento em motocicletas, especificamente Harleys e Indians. Outros, mesmo sem terem sido oficialmente treinados com motocicletas, solicitaram-nas como um passatempo que os ajudasse a aliviar as tensões vividas no combate armado. Muitos veteranos da Segunda Guerra tinham consolidado laços muito fortes entre eles, laços que transcenderam a guerra e que muito provavelmente começaram desde os tempos de treinamento militar, ao serem obrigados a realizar tarefas aparentemente impossíveis e com alto nível de estresse que, nas forças armadas, são feitas justamente para consolidar rapidamente um grau incrivelmente alto de interdependência com a tropa. Durante o combate, eles se tornaram irmãos de armas através de experiências horríveis, como testemunhar o assassinato de membros de suas unidades, serem eles mesmos feridos em combate, serem cúmplices em assassinatos de soldados inimigos e outras atrocidades da guerra (Ciacchi; Barger, et al; Reynolds).
Esses homens se tornaram irmãos e sua irmandade nasceu na guerra, na atrocidade e na morte, um parentesco que vai além dos laços de sangue. Também é importante considerar a idade desses homens: a média de idade dos soldados da Segunda Guerra era de 26 anos (Kolb).
Muitos veteranos, ao retornar, reportaram sensações de inquietude e mal estar (Kolb); suas personalidades pré-guerra tinham sido mudadas para sempre. Esses homens estavam, muito provavelmente, sofrendo vários graus de Transtorno de Estresse Pós-Traumatico (TEPT), um diagnóstico psicológico que não foi oficialmente reconhecido até 1980 (APA). O Centro Nacional de Transtorno de Estresse Pós-Traumatico (National Center for Post Traumatic Stress Disorder - NCPTSD) define o transtorno como:
Um transtorno psiquiátrico que pode ocorrer subsequente a experiências ou testemunho de eventos ameaçadores à vida, como combate militar, desastres naturais, incidentes terroristas, acidentes graves ou ataques violentos à integridade física, como estupro. Pessoas que sofrem de TEPT frequentemente revivenciam as experiências através de pesadelos e flashbacks, sentem dificuldade para dormir e se sentem deslocadas ou estranhas ao meio, e tais efeitos podem ser graves e duradouros o suficiente para afetar a vida cotidiana de maneira significativa.
Pesquisadores descobriram que alguns veteranos de combate encontram alivio para as tensões do TEPT se envolvendo em atividades de lazer interpessoais, como as que envolvem o motociclismo (Hill& Langholtz, Orford, Kanas, Ouimette, Humphreys, Moos, Finney, Cronkite e Federman). Então, parece lógico que os horrores da guerra e o inferno do combate tenha esvaído as personalidades pré-guerra desses homens para moldá-las para sempre numa nova forma, que não se encaixava na sociedade americana do pós-guerra. Não é de surpreender que quando esses homens retomassem seus trabalhos, tendo de que cumprir horários, vestir paletós, subordinar-se a gerentes, bater martelos ou consertar carros, eles logo procurassem atividades que fizessem seu sangue pulsar novamente.
Veteranos, em busca de alivio para os efeitos residuais de suas experiências de guerra, começaram a se juntar apenas para estar entre amigos e, talvez, reviver alguns dos melhores e mais selvagens aspectos de suas vidas durante a guerra. Logo as motocicletas tornaram-se parte da equação, em grande parte devido ao alto nível de desempenho e aventura que elas ofereciam, mas também devido ao fator antisocial dos escapamentos barulhentos e o tamanho imponente das motos. Adicione a isso tudo o crescimento econômico do pós-guerra e uma reportagem da revista Life sobre o incidente de 4 de Julho de 1947 em Hollister, Califórnia e parece que todos os ingredientes necessários, que faltavam durante o período de pré-formação dos Motoclubes, se encontram presentes agora e são suficientes para a criação de um tipo específico de organização motociclística.
Como já mencionado, apenas membros de motoclubes reconhecidos pela AMA eram autorizados a participar de corridas e as corridas profissionais, como o campeonato mundial, eram o objetivo principal na formação e difusão de moto clubes. A AMA impôs regras rigorosas a seus membros, visando a segurança nas corridas e a promoção de uma imagem do motociclismo como sendo um esporte para a família e os amigos.
Um incidente em Hollister, Califórnia, a 4 de Julho de 1947, levou a uma ruptura organizacional dentro da AMA, aparentemente como reação à cobertura que este incidente teve por parte da imprensa.
No fim de semana daquele 4 de Julho, integrantes de vários moto clubes, incluindo os Pissed Off Bastards of Bloomington (POBOB) *4 e os Boozefighters Motorcycle Club, compareceram às corridas anuais Gypsy Tour, etapa de Hollister. As corridas Gypsy Tour eram apoiadas pela AMA e ocorriam em diversas localidades do pais e, como os eventos NASCAR de hoje em dia, eram consideras as corridas mais importantes da época (AMA). O público excedente do evento, alguns bikers integrantes de moto clubes, mas a maioria bêberrões não-integrantes de motoclubes, se espalhou pelas ruas da pequena Hollister, rodando com suas motos e bebendo quantidades enormes de álcool, para a alegria dos comerciantes locais (Hollister). A festa resultou em um ou outro dano mínimo a vitrines e ao menos uma detenção por comportamento público lascivo, mas não chegou nem perto do que publicou a revista Life.
Devido, mais do que nada, à falta de testemunhas vivas que pudessem servir de fonte histórica primária, a “verdade” sobre o que realmente aconteceu naquele fim de semana de 4 de Julho em Hollister ainda permanece oculta, provavelmente para sempre. De fato, a maioria dos relatos desse infame final de semana (ex.: Valentine, Watson, Thompson) omite informações importantes para o contexto do ocorrido, como o fato de que Hollister já tinha sediado uma Gypsy Tour em 1936 e que a pista de corridas Bolado Racetrack, localizada na verdade fora da cidade, era regularmente palco de outras corridas de motos (Hollister, Reynolds 46). De fato, relatos históricos de Hollister omitem a relação que a cidade há muito cultivava com corridas de motos para passar a imagem de que a cidade foi palco de um terrível massacre. *5 Tom Reynolds apropriadamente observa que o mito é muito mais interessante do que qualquer fato que venha a ser extraído de fontes primárias (46). O município de Hollister teve grandes prejuízos em 1997, para organizar o evento motociclístico em comemoração ao 50º aniversário do evento de 1947.
O mito de 4 de Julho de 1947 em Hollister pode ser atribuído a uma pessoa. De acordo com testemunhas oculares, Barney Peterson, fotógrafo do jornal San Francisco Chronicle armou a hoje infame foto de um biker inclinando-se bêbado sobre uma Harley-Davidson rodeado por garrafas de cerveja quebradas, com uma cerveja em cada mão e exibindo uma insígnia de moto clube para a câmera e, consequentemente, para todo o país (Reynolds 50, Ciacchi). O San Francisco Chronicle serviu-se de uma generosa ajuda da licença literária ao descrever o fato. Ao descrever como os bikers rodavam de cima abaixo pelas ruas de Hollister e pelos bares e restaurantes, o Chronicle utilizou palavras como “terrorismo” e “pandemônio” de forma exagerada e as mulheres que acompanhavam os bikers não foram descritas apenas como jovens americanas inofensivas (Reynolds 54). É importante mencionar que o artigo do Chronicle não incluiu nenhuma foto. Mas no fim das contas o artigo do Chronicle pouco implicou na revolta dos cidadãos da região; numa época em que os protestos trabalhistas locais acabavam em morte, o fato não foi muita novidade. Uma publicação Americana de maior porte divulgou a história de Hollister e a foto armada de Barney Peterson foi capa da edição de 21 de Julho de 1947 da revista Life sob a manchete “Feriado de Ciclista: Ele e Seus Amigos Aterrorizam Cidade.” O artigo da Life afirmou que quatro mil integrantes de um moto clube foram responsáveis por lutas com armas brancas, um exagero sem proporções. De acordo com a maioria das estimativas ainda há de existir um moto clube capaz de mobilizar metade desse número de integrantes para qualquer lugar (Southeast Gang Activities Group, Detroit).
O artigo de meras 115 palavras abaixo da já descrita imagem, foi publicado numa coluna da revista chamada “Eventos da Semana”. Essa coluna destacava eventos ocorridos por todo o mundo e apelava muito mais para imagens do que para o texto ao “contar suas histórias”. Todos os artigos publicados nessa coluna exploram imagens em formato grande, texto reduzido e pouco esclarecedor. A história publicada na revista Life causou polêmica no país (Yates) e alguns autores afirmam que a AMA, subsequentemente, veio a publicar uma nota na imprensa negando envolvimento no evento de Hollister e alegando que 99% dos motociclistas seriam cidadãos de bem, decentes e cumpridores da lei e que nenhum dos clubes reconhecidos pela AMA estaria envolvido no ocorrido (Reynolds, Thompson). No entanto, a AMA não tem nenhum registro que indica a publicação de tal nota. Tom Lindsay, Diretor de Relações Públicas da AMA, diz “Nós [a AMA] reconhecemos que o termo ‘um porcento’ tem, por muito tempo, sido (e provavelmente continuará a ser) atribuído à American Motorcyclist Association, mas não encontramos indicio de que sua primeira aparição tenha se dado em alguma nota oficial da AMA”.
O artigo da revista Life gerou respostas escritas de pelo menos três indivíduos, um dos quais foi Paul Brokaw, um proeminente editor da publicação Motorcyclist, voltada ao público motociclista. Brokaw repreendeu a revista Life pela sua versão pouco autêntica do evento de Hollister. É prudente exibir a carta enviada por Brokaw aos editores da Life em 11 de Agosto de 1947 na íntegra:

Senhores:

É difícil expressar com palavras o choque que tive ao me deparar com a fotografia daquele motociclista [Life 21 de Julho, 1947, pg. 31]. É uma foto claramente encenada e montada por um fotógrafo ganancioso e sem escrúpulos.

Nós, com pesar, reconhecemos que houve desordem em Hollister – não a ação de 4,000 motociclistas, mas uma ínfima porcentagem desse número, somados a um número muito maior de desordeiros não-motociclistas e donos de bares mercenários. De maneira nenhuma nós defendemos os culpados; na verdade, ações drásticas estão sendo tomadas para evitar que esse número de circo se repita.
No entanto, ao exibir essa desastrosa foto, vocês mancharam a imagem de milhares de jovens homens e mulheres inocentes, decentes, respeitáveis e cumpridores da lei, que são os verdadeiros representantes de um esporte admirável.
Paul Brokaw
Editor, Motorcyclist
Los Angeles, Calf.

Na carta acima, Brokaw claramente dá a entender que ele e outras pessoas cujos nomes não são mencionados se referem ao evento de Hollister. É importante notar que Brokaw não menciona quem essas outras pessoas possam ser, nem menciona estar falando em nome da AMA. O interessante é que Brokaw declara que qualquer mau comportamento em Hollister não teria sido obra de 4,000 motociclistas, “mas uma ínfima porcentagem desse número”. Parece lógico que, na ausência de qualquer documento publicado pela AMA, este comentário seja responsável pela origem do termo “um porcento” (N. do t.: em inglês “one percenter” onde a terminação “er” transforma o “termo one percent” em um adjetivo). Mais tarde, outra carta publicada na mesma edição da revista Life, escrita por Charles A. Addams, ironicamente define metade do público em Hollister como sendo membros da AMA. Segundo Adams, “os quatro mil motociclistas que compareceram ao evento não eram integrantes de um clube específico, mas provavelmente 50% fossem membros da AMA e os outros 50% fossem apenas motociclistas que estavam lá para passar um feriado prolongado. Cerca de 500 motociclistas fizeram do evento o fiasco que este foi”. A terceira e última carta publicada na edição de 21 de Julho de 1947 foi enviada por Keenan Wynn, da Metro-Goldwyn-Mayer Pictures e aparentemente foi escrita numa tentativa de ressaltar o fato de que a descrição dos eventos de Hollister não condizia com o que ele e outros motociclistas tinha visto; esses outros motociclistas eram personalidades significativas (Clark Gable, Larry Parks, Randolph Scott, Ward Bond, Andy Devine e Bob Stack). Quando combinadas, as cartas de Addams e Brokaw podem ser uma resposta ao porquê de muitos acreditarem que a AMA publicou uma nota em resposta ao artigo da revista Life. A carta de Addams estabelece a possibilidade de uma presença considerável da AMA no evento e Brokaw parece falar em nome de uma organização motociclística que teve sua reputação manchada com a versão dos fatos que o artigo mostrou. Portanto, parece lógico concluir que essas duas cartas representam, para o editor, a origem do mito da “condenação do evento por parte da AMA”. Os comentários de Brokaw em sua carta ao editor não falavam de forma explicita em nome da AMA, mas com o tempo o público pode ter interpretado seus comentários dessa forma.

Enquanto as principais organizações motociclísticas tentavam se manter afastadas do mito de Hollister, clubes como os Boozefighters se deleitavam com ele. E foi assim que o nascimento dos moto clubes outlaw foi o resultado de uma catástrofe que nunca aconteceu e a conseqüente expatriação por parte de uma organização da qual eles nunca fizeram parte e tudo isso nunca teve muita repercussão fora da subcultura biker (Reynolds).

Período de transformação: 1948-presente
Entre 1948 e o começo dos anos 60, os motoclubes outlaw (não afiliados à AMA) se espalharam além da Califórnia e estabeleceram chapters (N. do t.: “chapters” = facções) por todo o país. Clubes como os Sons of Silence Motorcycle Club começaram no meio-oeste, os Bandidos Motorcycle Club no Texas, os Pagans Motorcycle Club na Pennsylvania, entre outros. No inicio desse período, alguns integrantes dos Pissed Off Bastards of Bloomington se separaram de seu clube e fundaram o primeiro chapter dos Hells Angels Motorcycle Club (HAMC). Também foi nessa época que os Boozefighters, um dos moto clubes outlaw originais, começou um rápido declínio no número de integrantes e, consequentemente, se desbandou. *6 A época do conflito entre EUA e Vietnã (1958-1975) pode ser vista como o período mais recente no qual fatores sociais significativos influenciaram na formação de motoclubes outlaw. Assim como no final da Segunda Guerra, veteranos retornados se integravam aos montes em motoclubes. Veteranos do Vietnã entrevistados em pesquisa de campo narram que eles se sentiam alvos de ataques do povo americano logo que voltavam para casa. Na verdade, a guerra e as atrocidades cometidas em nome de americanos e contra americanos no sudeste da Ásia foram inconcebíveis para muitos americanos e povos de outras nacionalidades, como australianos, por exemplo (Pigot). Os veteranos narram terem sido chamados de “assassinos de bebês”, as pessoas cuspiam neles nos aeroportos, batiam neles em demonstrações públicas de raiva e lhes negavam emprego, tudo isso após eles terem “cumprido o seu dever” para com o seu país (Vietnam Vets Motorcycle Club; Barger, et al; Pigot).
Entre outras coisas, nas selvas do sudeste da Ásia os veteranos tiveram experiências com tráfico de drogas, o que não foi muito notado pela, dado o crescimento massivo da cultura das drogas na sociedade americana da década de 60. Enquanto a idade média dos veteranos da Segunda Guerra era de 26 anos, a média de idade dos veteranos do Vietnã era de apenas 19 (Crawford). Adolescentes recém saídos da puberdade tinham vivido um dos conflitos armados mais sangrentos da historia americana. Da mesma forma como acontecera com os combatentes da Segunda Guerra, o inferno do combate mais uma vez encontrou jovens americanos lutando em solo estrangeiro, morrendo, matando e sendo feridos. E da mesma forma esses homens seriam mudados para sempre pelas suas experiências em combate, sua inocência seria perdida para sempre, suas personalidades de antes da guerra reduzidas a não mais do que restos que seriam varridos para baixo do tapete, por assim dizer, por uma nação sedenta para simplesmente esquecer tais experiências (Pigot; Crawford; Barger, et al).
É durante esta época que notórios bikers “um porcento” emergem em escala nacional dentro da subcultura biker. Os motoclubes dominantes da época deram um passo além do rompimento com a AMA e tomaram para si a declaração desta, vestindo o emblema dos 1% restantes como insígnia de honra e se consolidando como uma nação livre de verdadeiros motoclubes outlaw, conhecidos como Um Porcento (Barger, et al; Pigot). Os bikers um porcento originais entraram num acordo sobre um símbolo em forma de losango para denotar o seu status marginal, porém exclusivo e concordaram em estabelecer limites geográficos, onde cada clube operaria independentemente. Essa associação independente perdurou por algum tempo depois da guerra do Vietnã e os bikers um porcento não viriam a aparecer na mídia até meados da década de 60. (Posnansky, Reynolds, Seate, Thompson).
Um ponto significativo na evolução dos clubes um porcento aconteceu na Califórnia durante o verão de 1964, quando dois integrantes dos Hells Angels Motorcycle Club, num evento do clube, foram presos e acusados de terem estuprado duas mulheres em Monterey, Califórnia. As acusações foram retiradas devido a falta de evidências e os dois Hells Angels foram libertados, mas parece que a cobertura da imprensa chamou a atenção de certos oficiais de estado da Califórnia. O senador do estado da Califórnia, Fred Farr, exigiu uma investigação imediata sobre “motoclubes outlaw” e duas semanas depois, o Promotor Geral do Estado da Califórnia, Thomas C. Lynch, lançou a iniciativa estadual de coleta de informações por agencias da lei (Syder). No ano que seguiu o incidente de Monterey, o Promotor Geral Lynch divulgou ao público o relatório interno, que foi preparado com o propósito de ressaltar as atividades dos motoclubes outlaw na Califórnia, como os Hells Angels. O relatório de Lynch, como veio a ser chamado, pode ser visto como a primeira tentativa burocrática em grande escala de retratar os motoclubes como uma ameaça clara às constituições estadual, nacional e mesmo internacional. O relatório consiste do que pode ser interpretado como um pouco mais do que lendas urbanas criadas por agências policiais: absurdos insubstanciados, como estupros de jovens mulheres indefesas por parte de gangues e saques de pequenas cidades na Califórnia, tudo isso sob o título de “Atividades de Vandalismo”. Investigadores como Hunter Thompson fizeram o relatório de Lynch cair em descrédito já em 1966. Thompson talvez faz a melhor descrição da credibilidade do Relatório de Lynch ao escrever: “Como documento histórico, isso seria apenas o esboço da sinopse dos piores pesadelos de Mickey Spillane” (524). Apesar da validade social questionável do Relatório de Lynch, “fatos” desse relatório continuam a ser considerados pelo governo e pela literatura investigativa até os dias de hoje (ex.: Southeast Gang Activity Center, 2005).
Noticiários rapidamente adotaram a imagem negativa dos Hells Angels e muitos jornais começaram a circular histórias com manchetes alarmantes. Talvez Andrew Syder seja quem melhor destaca como o Relatório de Lynch moldou o conceito dominante da cultura americana sobre os motoclubes. Syder menciona citações do relatório nos maiores canais da imprensa americana e observa que a maioria dos veículos de imprensa “utilizou o depreciativo Relatório de Lynch como vitrine, tendo-o como principal fonte de informação” (3). Entre as mais notórias publicações que mencionaram o relatório estão:
The New York Times: “Califórnia Toma Medidas para Frear Terrorismo de Ciclistas Vândalos” 16 de Março de 1965,

The Los Angeles Times: “Hell's Angels Chamados de Ameaça sobre Rodas,” 16 de Março de 1965,

Time: “Os Mais Selvagens” 26 de Março de 1965,

Newsweek: “Os Selvagens” 29 de Março de 1965,

The Nation: “Gangues de Motociclistas: Perdedores e Estrangeiros” 17 de Maio de 1965,

The New York Times: “10,000 em Distúrbio na Praia em New Hampshire,” 20 de Junho de 1965,

Life: “Junte-se ao Motim” 2 de Julho de 1965,

Newsweek: “Diversão de Bikers” 5 de Julho de 1965,

The Saturday Evening Post: “Os Hell's Angels,” 20 de Novembro de 1965.

Esta cobertura da mídia acabou por produzir uma nuvem de fumaça que cobriu não somente os chapters dos Hells Angels MC, mas toda a subcultura dos motoclubes outlaw. Os produtores de Hollywood rapidamente se aproveitaram da imagem de desordeiros que os motoclubes outlaw levaram. Os filmes Wild Angels e Os Demônios Sobre Rodas (Hells Angels on Wheels) foram lançados já em 1967, ambos distorcendo ainda mais a realidade do que significava ser um integrante de um motoclube outlaw.*7 Ao que parece, certos políticos do Governo da Califórnia foram responsáveis pela exibição de uma imagem falsa da subcultura biker outlaw, que certos veículos proeminentes da mídia “validaram” e que Hollywood perpetuou (Syder, Seate). Não que os Hells Angels MC sejam vítimas completamente inocentes de propaganda negativa do governo e da imprensa. Eles também tiveram a sua participação na formação de sua imagem. Por exemplo, integrantes dos Hells Angels MC, que pareciam apreciar a atenção da mídia, permitiram que Hunter Thompson se aproximasse deles e participaram voluntariamente de certos filmes que exploram a imagem da gangue de motociclistas (como Hells Angels on Wheels e Hell’s Angels ’69) e também participaram de certos talk shows numa radio local da Califórnia. Depois disso, o Oakland chapter dos Hells Angels MC acendeu as chamas da mídia ao atacar um grupo de protestantes contra a Guerra do Vietnã em Berkeley. Talvez tudo isso tenha sido uma simples tentativa dos Hells Angels MC de solidificar uma imagem de renegados aos olhos da cultura dominante. Contudo, um incidente no final de 1969 solidificou uma imagem intolerável dos motoclubes outlaw aos olhos da sociedade, fosse tal imagem verídica ou não. Um integrante do HAMC foi acusado do assassinato de um rapaz de 18 anos chamado Meredith Hunter, que foi esfaqueado até a morte no show “Gimme Shelter” dos Rolling Stones, a 6 de dezembro de 1969, no Altamont Speedway em Vermore, Califórnia.
Detalhes do incidente permanecem obscuros: (1) Os Hells Angels MC podem ou não ter sido contratados para a segurança dos Rolling Stones; (2) Meredith Hunter pode ou não ter atacado um integrante dos Hells Angels MC; (3) Hunter pode ou não ter, na verdade, tentado atacar Mick Jagger em vez de um integrante dos Hells Angels. Segundo Sonny Barger, naquela época presidente do Oakland chapter dos Hells Angels MC, Hunter atirou num integrante dos HAMC: “Meredith tinha atirado em um Hell’s Angel. O integrante em questão era fugitivo da justiça, então não pudemos levá-lo ao hospital. Ainda bem que foi só uma ferida superficial" (166). Obviamente não há absolutamente nada que corrobore a versão de Barger, mas mesmo ele admite não ter realmente presenciado o suposto tiro (165). O integrante dos Hells Angels que foi supostamente atingido pelo tiro permanece anônimo devido ao seu status de “fugitivo”, o que também explica porquê não há registros médicos para comprovar a alegação de Barger. É preciso observar todos os detalhes contextuais envolvidos no incidente de Altamont para se ter evidências de credibilidade, que Barger de fato fornece, porém sua versão deve ser examinada com olho clínico.
Ainda hoje é possível ver menções do que ocorreu em Altamont. Num documentário de 1970 chamado Gimme Shelter (dirigido por David e Albert Maysles e Charlotte Zwerin), são exibidos replays múltiplos de aspectos significativos do momento do esfaqueamento de Hunter. Nick Aretakis descreve: “E agora vemos o momento do assassinato: Um integrante dos Hells Angels esfaqueia um homem que segura uma arma em frente ao palco. Isso ocorre durante a execução de ‘Under My Thumb,’ mas a não ser que se observe de perto, é bem difícil de se ver, a não ser quando o vídeo passa pela edição, onde os editores nos mostram (e também a Jagger) voltando e repetindo o vídeo várias vezes. Claramente chocado pelas imagens, Jagger sai da sala diante das câmeras, com olhar vazio, sem demonstrar nenhum indicio do quê se passava, nem como e nem porquê.” O vídeo carece de informações contextuais sobre o incidente (não há, no vídeo, nenhum indicio da causa do tiro, nem do esfaqueamento), mas é importante ver o vídeo juntamente a relatos sobre o incidente, para poder se fazer inferências plausíveis. O que pode ser constatado é que o integrante dos HAMC acusado do assassinato foi considerado inocente. Da mesma forma como os integrantes acusados em Monterey cinco anos antes, o Hells Angel acusado em Altamont ficou livre; por outro lado, a subcultura dos motoclubes outlaw foi sentenciada por toda a vida a ter uma imagem pública negativa.
Durante os anos 60 e 70, novos clubes aderiram o emblema um porcento e ainda que menores em número de integrantes do que clubes mais velhos, como os Hells Angels MC, esses clubes foram consideravelmente mais agressivos aos delimitar as suas áreas geográficas de atuação. Entre os motoclubes outlaw que se somaram à elite dos clubes um porcento durante essa época estavam os Bandidos MC, de Galveston Texas, os Pagans MC, os Sons of Silence MC, os Mongols MC, os Vagos MC da parte sul da Califórnia e os Warlocks MC da Flórida. Dando um salto até os tempos atuais, uma hierarquia de motoclubes foi firmemente estabelecida entre os clubes um porcento: “os três grandes” como são conhecidos pelas forças policiais estaduais e federais (Southeast Gang Activity Group; Barger, et al; Valentine). Os três grandes, em ordem de poder sociocultural, são: Hells Angels MC, Outlaws MC, e Bandidos MC. Há outros clubes um porcento, entre eles os POBOB MC, Gypsy Jokers MC, Galloping Goose MC e Hells Henchmen MC.
Desde o inicio do período de transformação, em 1948, o número e os tipos de motoclubes outlaw tem aumentado. Alguns clubes utilizam o emblema um porcento, mas muitos não o vestem (Dulaney; Barger, et al; Wolf). Com o devido respeito a Mark Watson e Daniel Wolf, que afirmam que todos os motoclubes outlaw são um porcento, é importante traçar distinções bem definidas entre motoclubes outlaw e motoclubes um porcento. Motoclubes Outlaw são simplesmente motoclubes que não são reconhecidos pela American Motorcyclist Association e representam a grande maioria dos motoclubes nos EUA (Dulaney). Na verdade, todos os clubes um porcento são, por definição, motoclubes outlaw, mas não todos os clubes outlaw são clubes um porcento. O significado original adotado pela subcultura motociclística para a palavra “outlaw” denota falta de ligação organizacional com a AMA e nada além disso, e ainda é utilizado por motoclubes que não se auto-definem como clubes um porcento.
A base do biker um porcento pode ser definida da seguinte forma: os interesses do clube são superiores às necessidades do indivíduo, sejam elas família ou trabalho.
Não é nenhum segredo que certos integrantes de motoclubes um porcento vem sendo declarados culpados de atividades ilegais como produção, distribuição e venda de metanfetamina, prostituição, violência física, chantagem e roubo de motos (Paradis, Southeast Gang Activity Group, Barger, Lavigne, Watson, Wolf, Posnansky, and Thompson), porém minha pesquisa de campo sugere enfaticamente que integrantes envolvidos em tal comportamento representam uma minoria dos clubes um porcento.
O símbolo do biker um porcento é o losango e um motoclube que não exibe tal símbolo em seu colete definitivamente não é um motoclube um porcento. Esse patch em forma de losango com as palavras “one percenter” ou o símbolo alfanumérico “1%er” bordado no centro é geralmente colocado na lapela esquerda do colete, sobre o coração; no entanto, ao menos um clube um porcento exibe o símbolo no brasão das costas (Bandidos MC). O símbolo um porcento é formado pelas duas cores dominantes no esquema de cores do clube (Hells Angels MC tem o símbolo composto de fundo branco e letras e margem vermelhas, Outlaws MC compõe o símbolo de letras e borda branca com fundo preto, os Bandidos MC usam letras vermelhas em fundo dourado). Recentemente certos chapters dos Hells Angels MC deixaram de utilizar o símbolo de um porcento. Segundo Sonny Barger, os requisitos para ser um integrante dos Hells Angels MC estão acima dos requisitos de qualquer outro motoclube, um porcento ou não. Barger frisa: “Nós não somos ‘One-Percenters’, somos Hell’s Angels do inicio ao fim” (42). Durante minha pesquisa de campo foi observado que este é, certamente, o caso dos chapters Oakland, Califórnia; Cave Creek, Arizona e Charlotte, North Carolina; entretanto, o web site dos Hells Angels MC ainda afirma: “Hells Angels é o mais antigo e maior motoclube 1% original do mundo” (Hells Angels Motorcycle Club).
Mas, na verdade, um porcento ou não, a ética organizacional de um motoclube outlaw às vezes é, por si só, um código de conduta difícil de se seguir. Tal ética, coloquialmente chamada de “etiqueta”, define o comportamento aceitável de um integrante, considerando um amplo contexto social e dita sanções severas àqueles que violam a conduta e as responsabilidades do grupo ou individuais.

Conclusão
A taxonomia fornecida acima tem como objetivo ajudar no entendimento de certos fatores culturais e sociais que influenciaram as origens e a evolução dos motoclubes nos Estados Unidos. Fatores comuns entre esses três períodos são o envolvimento americano em conflitos militares e a organização social subsequente em torno do motociclismo. O que fica claro é que nem o governo americano, nem a sociedade, estão dando muita atenção aos efeitos que da guerra sobre esses indivíduos. Na verdade, o que parece é que não existe um processo para que os veteranos de combate possam retomar o seu papel de cidadãos, de pessoas. Devido a essa falta de reinserção estruturada na sociedade americana, certos veteranos criaram, com o passar do tempo, uma cultura na qual eles são aceitos como eles realmente são.
A subcultura dos motoclubes outlaw pode ser vista como uma sociedade construída sobre bases militares e hierárquicas, um mundo em preto e branco, altamente organizado, controlado, no qual indivíduos devem entender seu papel, sua identidade e seu papel social de forma implícita.
O que eu e outros pesquisadores ainda não conseguimos examinar são os efeitos que a atual “Guerra contra o Terrorismo” pode ter sobre a continuidade da evolução da subcultura biker.
Talvez um período adicional está se construindo na história da subcultura biker neste exato momento, enquanto este artigo é lido. Um período pós-transformação, que começou em algum lugar nos anos 80 e inclui os efeitos da cultura popular na subcultura biker.
Pesquisas futuras revelarão que membros da subcultura parecem ter alcançado a posição de ícones. A sociedade americana parece ter assimilado integrantes dos Hells Angels MC mais como personagens de ficção do que como uma real ameaça à sociedade. De fato, o contexto no qual muitos passam a tomar conhecimento da subcultura biker são programas na tv a cabo, com canais como History Channel, Discovery Channel e The Learning Channel exibindo documentários apelativos sobre bikers outlaw e com integrantes de motoclubes aparecendo em programas populares como a serie Monster Garage do Discovery Channel que conta com integrantes dos Hells Angels MC. Nem todos os bikers um porcento são talentosos mecânicos ou artesãos das duas rodas, mas talvez certos integrantes de clubes um porcento estejam utilizando-se de veículos da mídia para exibir uma imagem mais positiva do que significa ser um biker outlaw ou, mais especificamente, um biker um porcento. A imagem exibida em programas como Monster Garage não é a de um criminoso, mas a de um artista. Enquanto a cobertura da mídia nos anos 60 pode ser interpretada como tendendo a construir a imagem de que os motoclubes seriam uma força destrutiva na sociedade, certos veículos da mídia moderna parecem tender a construir uma imagem de indivíduos criativos.
E assim segue a evolução dos motoclubes outlaw.

Notas finais
*1 Trabalhos que exploram os clubes em guerra incluem Paradis, Lavigne, Valentine, Mayson e Wethern. Para exibições da mídia ver Barger, Zimmerman, & Zimmerman e Thompson. Sobre lendas, Reynolds e Yates. Ver Watson, Wolf e Posnansky para cultura biker.
*2 O autor é motociclista há muitos anos, tem uma Harley-Davidson FLE (Panhead) 1953 e é integrante de um motoclube outlaw há 8 anos.
*3 Ver http://www.outlawsmc.com/history.
*4 Certos integrantes dos Pissed Off Bastards of Bloomington se retiraram e vieram a formar os Hells Angels Motorcycle Club.
*5 Ver Valentine como exemplo de historias incompletas.
*6 Os Boozefighters se reestruturaram em 1995 com o consentimento de Wino Willie Forkner e outros integrantes originais (Boozefighters).
*7 Ver Seate para uma análise detalhada desses e outros filmes sobre bikers.

Citações

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Wynn, Keenan. Letter. Life. 11 Aug. 1947: 7.

10/05/2009

Um Modesto Exemplo.

Vi esta postagem num blog chamado QUAD CAM BASTARDS, em inglês, e achei que deveria postar aqui pra quem não lê nesse idioma.


"Muitos dos e-mails que recebemos...






...são bons pra caralho.

Romel Cortez está de parabéns. Ele escreve:
Aqui estão algumas fotos da minha moto. Ela era um lixo há um ano. Fiz tudo com ferramentas de mão, um esmeril e a máquina de solda de outra pessoa.
Com o mínimo de dinheiro e muita determinação, aqui está o que ela virou.
Negociando peças e depenando ela e vendendo tudo o que eu não preciso, consegui um banco Biltewll, um velho carburador S&S Super B, um guidom T-bars e outras coisas. Vou baixar a frente em 2 polegadas esta semana e colocar pneus Firestone logo. Espero que ela seja boa!

Saudações,

Romel Cortez

09/05/2009

ABSURDO: MANIFESTZINE

Caros leitores do blog.

Achei este blog chamado MANIFESTZINE, que tem um artigo postado por um tal de Marcos, que óbviamente me enfureceu, alertando para o perigo das "GANGUES" de motociclistas no Brasil.

CLIQUEM AQUI PARA VER O BLOG DELE E O ARTIGO EM QUESTÃO

Elaborei uma resposta:

Marcos.

Meu consolo é que a leitura de seu artigo deixa claro e evidente, tanto para bikers como para pessoas que não fazem parte da cena biker no Brasil, que você não faz a mínima idéia do que está dizendo.

Eu me explico:

Você diz: "No Brasil pouco sabe-se da realidade escondida no motociclismo".
Eu digo: Isso é uma verdade válida não somente para o Brasil, mas para o mundo inteiro. As autoridades e a mídia não fazem a menor idéia da realidade de ser um biker, mas como ALGUNS bikers optam por levar uma vida criminosa (assim como MUITAS pessoas que vivem dentro de muitos outros ambientes, principalmente o ambiente político e o policial), então eles escolheram utilizar seu poder de formação de opinião para rotular o que eles não entendem.
Infelizmente temer o desconhecido é uma tendência natural do ser humano.

Você diz: "pessoas, mal intencionadas e com propósitos voltados para obtenção de lucro fácil passando por cima das leis, descobriram as vantagens de usar o MC para disfarçar uma grande estrutura criminosa, por vezes internacional."
Eu digo: Prove. Até agora as autoridades não conseguiram provar que os clubes 1% que eles taxam de organizações criminosas são, efetivamente, organizações criadas para tal fim. E sabe por que? Porque elas não o são.
Se o fato de haver criminosos dentro de uma organização é evidência suficiente para se taxar tal organização de criminosa, então a polícia e todo o congresso são organizações criminosas, concorda? Temos que refletir um pouco mais sobre generalizar tal termo, pois isso, a exemplo do que acontece em outros países, pode acabar muito mal aqui no Brasil, fazendo de pessoas inocentes alvos das autoridades e limitando o direito à liberdade de associação garantido pela constituição, o que é um absurdo. Se de-repente um membro de sua familia estiver envolvido com o crime organizado e você e sua familia forem presos sob suspeita de ser uma "familia mafiosa" você entenderá o que eu quero dizer.

Você diz: "... reza a lenda que alguns motociclistas de grupos são maus, na verdade não trata-se de lenda, estes criminosos que estão disfarçados em MC são realmente maus, envolvendo-se frequentemente em brigas e violência em eventos do gênero e também fora deles tendo sua grande maioria envolvimento com consumo de drogas."
Eu digo: Se eu insultar um homem de verdade, o mínimo que eu vou esperar dele é que ele me dê uma porrada na cara. Eu digo isso porque é o que eu faria com qualquer um que me insultasse. Brigas entre homens sim definem o caráter deles. Do seu ponto de vista dois homens que utilizam os punhos numa contenda de igual para igual podem ser trogloditas e talvez sejam uma ameaça à sociedade. Do meu ponto de vista eles apenas estão resolvendo suas diferenças da forma mais eficiente possível e honrando suas calças. Éssa é a diferença entre nós dois e é devido a essa diferença que talvez você nunca entenderá a realidade de ser um biker. Isso nada tem a ver com ser uma pessoa má. Já as drogas, bem, meu caro, lamento lhe dizer, mas elas estão presentes em todas as esferas da sociedade, podem, inclusive, estar presentes dentro de seu círculo de pessoas mais próximas. Grandes executivos de empresas fazem uso de drogas. Nós dois sabemos que personalidades cuja hedoneidade é intocável fazem uso de drogas. A diferença entre moto clubes e outros meios sociais é que nós cuidamos de nossos IRMÃOS que fazem uso de drogas em vez de excomungá-los, porque a irmandade que existe dentro da subcultura biker não dá lugar à hipocrisia.

Você diz: "No Brasil, ainda não temos em estatísticas policiais a violência e troca de tiros entre este tipo de gangues" e depois você mesmo diz: "Seria ótimo a certeza que tudo envolvendo clubes Brasileiros fossem parte de uma brincadeira de imitação, mas, infelizmente pesquisas tem mostrado o contrário"
Eu digo: Ok, Marcos. Por favor me mostre as estatísticas de tais pesquisas. Ou elas não existem, como você primeiramente declarou? Ok, foi uma contradição, está perdoado. Isso ocorre e tende a ocorrer frequentemente quando se fala de algo que não se entende.

Você diz: "De acordo com o SE-GAG (Southeastern Connecticut Gang Activities Group -
http://www.segag.org/ ), uma organização americana que investiga as atividades das diversas gangues a nível nacional, os motoclubes denominados 1% ers ou simplesmente 1% com ramificações em vários países como Outlaws MC , Bandidos MC entre outros são realmente gangues criminosas envolvidas diretamente com o tráfico internacional"
Eu digo: Como já disse, tal informação não procede (não me refiro ao seu artigo, mas à colocação que a SE-GAG faz). Ainda não foi provado em nenhum pais que o objetivo de tais clubes (agora você resolveu dar nomes aos bois, né? Talvez porque você saiba que tais clubes não tem representação aqui no Brasil...) é a formação de quadrilha. Se isso fosse verdade todos os integrantes conhecidos de tais organizações estariam presos por ligações com uma organização criminosa. Veja bem, Marcos, o que aconteceria aqui no Brasil se ficasse provado que eu sou um integrante do PCC ou do Comando Vermelho? Eu seria preso no ato. Diferente dos moto clubes internacionais, cujos integrantes assumem abertamente serem integrantes dos respectivos clubes, pois ostentam o brasão em tempo integral. Cara, é preciso ter muito cuidado com o que se diz, pois, como eu já disse, isso pode colocar muita gente inocente sob a mira das autoridades.

Você diz: "O SE-GAG ainda apurou que essas gangues criminosas internacionais disfarçadas de motociclistas estão envolvidos com crimes de adulteração de documento e chassi de veículos automotores que são na maioria das vezes roubados para seu uso ou comercialização das peças"
Eu digo: Você está tentando enfatizar o ponto da mídia e das autoridades sobre clubes internacionais que não tem representação no Brasil. Mas tudo bem, tudo para contextualizar seu ponto sobre os clubes no Brasil... ok, agora, sobre tal crime, pode ficar tranquilo. Os despachantes e o DETRAN já fazem isso há muitos e muitos anos no Brasil.

Você diz: "Eu os faço uma pergunta: Será que eles estão apenas brincando de imitar os grupos criminosos americanos e demais internacionais ou estariam também solidificando-se em facções criminosas? Um grupo que destaca-se no Brasil pelo seu tamanho e evidência seus membros começam a sustentar a simbologia 1% e por sinal já iniciou capítulos de conflitos..."
Eu digo: Agora convêm ocultar nomes, não é? Bom, Marcão, eu digo que muitos clubes no Brasil sim brincam de imitar os clubes estrangeiros e poucos são os clubes formados por bikers de verdade, ou seja, indivíduos que abraçam a vida sobre duas rodas e não tem raízes na sociedade e nem regem suas vidas de acordo com os padrões que a sociedade estipula para que um homem seja considerado um "cidadão". Agora, "solidificar-se em uma facção criminosa" já é demais, né? Tá muito na cara, Marcão, que você nunca chegou nem perto da subcultura biker. Nunca foi a uma festa. Nunca viu uma criança crescendo em meio a essas familias de pessoas que valorizam muito mais uma palavra e um aperto de mão do que um papel.

Você diz: "Para quem não conhece, no Brasil as festas de alguns Motoclubes existe um clima conhecido como "legalize" onde o uso de certas drogas, principalmente a Maconha é tido como normal assim como shows públicos com nudez total feminina caracterizando a prostituição"
Eu digo: ... acho que tô ficando velho pra me explicar... cara, desculpa, mas meu conceito de diversão e o seu são muito diferentes...

Você diz: "É tudo muito triste e o Brasil provavelmente será palco de mais esta modalidade criminosa, um novo gênero de violência. Lamentável ver tantos homens, brasileiros, muitas vezes pai de família estar a colaborar com este tipo de organização e o mais triste ainda é saber que muitas vezes o crescimento vem com ajuda e suporte de pessoas eleitas e pagas para defender o interesse público e coletivo, pessoas que recebem salário do estado para garantir o bem estar do cidadão brasileiro, como é o caso de policiais, políticos e pessoas que ocupam cargos públicos ou representativos na sociedade e dão apoio a estas gangues"
Eu digo: Agora você está falando de criminosos de verdade. E escondidos, atráz de uma farda ou de um cargo público. E que movimentam mais dinheiro ilícito do que QUALQUER facção criminosa no mundo inteiro. Mas bem, sim, é triste saber que o Brasil será palco de tudo o que acontece lá fora, pois pessoas como você, junto à mídia e às autoridades preferem ROTULAR ao invés de ESCLARECER. FORMAR OPINIÃO ao invés de apresentar fatos reais. GENERALIZAR ao invés de FOCAR. JULGAR ao invés de ENXERGAR.

Vou terminar com uma frase muito conhecida, cara, pois ela reflete muito bem a minha postura com relação a pessoas como você:


NÃO ME JULGUE COM BASE EM SUA IGNORÂNCIA

Arthur Davidson e Deus

Arthur Davidson, morreu e foi para o céu.
Ao chegar às portas do céu, São Pedro disse-lhe:
- Meu filho, como foste um bom homem e tua invenção mudou o mundo, o teu prêmio é poderes encontrar-te com quem quiseres!
Arthur pensou um pouco e depois disse:
- Quero encontrar-me com Deus!
São Pedro levou Artur até a sala do trono e apresentou-o a Deus.
Deus reconheceu Arthur e disse-lhe:
- Então foste tu que inventaste a Harley-Davidson? Que grande coisa, inventar uma moto! É um veículo instável, faz muito barulho e poluição e não pode andar sem gastar gasolina!
Arthur ficou um bocado atrapalhado, mas uns minutos depois retorquiu:
- Desculpe-me mas não foi você que inventou a mulher?
- Sim, fui eu! - Respondeu Deus.
- Bem, aqui entre nós, de profissional para profissional, você também não foi nada feliz na sua invenção!
1º - Há muita inconsistência na suspensão dianteira;
2º - É muito barulhenta e tagarela em altas velocidades;
3º - Na maioria dos casos, a suspensão traseira é muito macia e vibra demais;
4º - A área de diversão está localizada perto demais da área de reciclagem;
5º - Os custos de manutenção são exorbitantes!!!
Deus pensou um pouco e depois disse:
- Podes ter bons argumentos, mas espera um pouco.
Deus foi até o super-computador celestial, digitou algumas palavras e esperou que a super-impressora imprimisse o resultado:
- Sim, é verdade que o meu invento tem defeitos, mas de acordo com estes resultados, há muito mais homens montados na minha invenção do que na tua!

07/05/2009

Não escolhi ser biker

Nasci em uma pequena cidade, filho de uma mãe ex-hippie e um pai motoqueiro. Cresci andando sentado no tanque da moto com o vento na fuça, é, naquela época usar capacete era coisa de frouxo! Com seis anos passei para a parte de trás do banco pois já alcançava os pés nas pedaleiras. Com dez ganhei minha própria moto, uma Yamaha 50cc, 4 marchas. Fiquei famoso no bairro andando escoltado pelo meu pai e os amigos dele. Tenho várias cicatrizes que sempre me lembrarão dessa moto! Veja eu não escolhi ser biker.
Na escola eu era zoado pois usava botas ao invés de tênis de marca, com 8 anos arriei o pau num coleguinha da sala e nunca mais ninguém me zoou. Nunca me conformei muito com a mesmice das coisas, de bicicleta escolhia sempre a descida mais íngreme, com a cinquentinha era sempre a rampa mais alta. Com 11 anos briguei com o motorista do busão, tive que pagar a lanterna que eu quebrei de propósito. Montamos uma gang na rua pra bater nos da Rua de trás. Entenda, eu não escolhi ser biker.
Mudei pra São Paulo, meu pai morreu nos meus braços em um acidente de trânsito de carro. Voltei toda a minha fúria para a sociedade. Brigava por qualquer motivo, freqüentava os botecos mais sujos e o puteiros mais desgraçados. Não me conformava com o mundo com a sociedade, não me encaixava, mas mesmo assim acredito não ter escolhido ser biker.
Com 18 anos, já trabalhando direcionei toda a minha energia e comprei minha moto. Aí tudo ficou claro, eu nasci biker!!! Tudo o que eu passei antes serviu pra moldar quem eu sou! Fortalecer minha hombridade, meu senso de respeito e irmandade. A moto que eu comprei? Igual a que o melhor amigo do meu pai tinha quando eu era criança uma “enorme” CB400. E comecei a rodar, a viajar, a consertar a minha moto. E me dei conta de que não era a moto que tinha me feito um biker.
Por isso que não adianta o cara comprar uma máquina, amarrar uma bandana na cabeça e achar que agora ele é um temido biker. Veja o verdadeiro biker já nasce diferente, além disso a criação dele, a educação, as amizades, tudo influencia na construção do indivíduo. E outra, pra um verdadeiro biker ter a moto não é suficiente, ele quer conhecê-la desmonta ela inteira, passa raiva, dá nome pra ela.
E assim eu comecei, xucro, rodando sozinho, pegando chuva, frio, fazendo amigos, ganhando confiança, passando confiança. Fazendo mais amigos. Na estrada o cara vai criando uma carapaça que endurece o couro e fortalece os princípios, e assim eu segui aprendendo com os mais antigos, ouvindo as histórias deles e fazendo a minha própria história pra amanhã ter o que contar se alguém tiver a humildade de ouvir esse simples biker.
Ser biker não é ser bom de briga, ou ter uma grande moto e um diploma do Iron Butt Association. Ser biker é ser simples, é precisar apenas de um teto de posto de gasolina e uma coberta pra dormir, é saber que com 6 chaves desmonta-se uma moto e saber também quais são essas chaves. É ter uma moto que o satisfaça, que reflita quem ele é por dentro, e que sempre esteja em condições de rodar. Afinal andar de outra coisa que não seja moto é de doer!
Eu acho triste que os conceitos do verdadeiro motociclismo estejam se perdendo e que cada vez menos os jovens dão atenção aos bikers. Que hoje os motociclistas estejam mais preocupados com o cromo e com a marca da jaqueta do que com a poeira e o vento das estradas. Eu sofro ao ver a proporção entre bikers e motociclistas se inverter de forma tão vertiginosa. Me preocupa ver o Estado criando leis restritivas que quase impedem a nós bikers de vivermos nosso estilo de vida. É como disse o autor, o mundo vai ficar muito mais sem graça quando o último biker cair.