ATENÇÃO

Se o motociclismo é o seu hobby favorito; se ao menos uma vez por semana você precisa reunir-se com seus amigos para um passeio de moto; se você já carregou nas costas o peso dos brasões de vários clubes ou está seriamente pré disposto a arcar com a responsabilidade de formar um novo motoclube; se você passa a semana inteira não aguentando esperar até o sábado para vestir seu colete, ou passa a semana indo trabalhar de carro e não vê a hora de pegar a sua moto no fim de semana; se você é consciente o suficiente para não pegar a estrada com mau tempo ou para não rodar sob efeito de álcool ou entorpecentes; se você exige ser rotulado de "motociclista" ou se você passa mais tempo em frente ao computador do que sobre duas rodas, e isso te incomoda... desculpe, seu lugar definitivamente não é aqui e talvez você se sinta desconfortável sabendo que para nós você não passa de um elo fraco dessa corrente. Portanto, meu conselho... IGNORE ESTE BLOG!

Dan

07/05/2009

Não escolhi ser biker

Nasci em uma pequena cidade, filho de uma mãe ex-hippie e um pai motoqueiro. Cresci andando sentado no tanque da moto com o vento na fuça, é, naquela época usar capacete era coisa de frouxo! Com seis anos passei para a parte de trás do banco pois já alcançava os pés nas pedaleiras. Com dez ganhei minha própria moto, uma Yamaha 50cc, 4 marchas. Fiquei famoso no bairro andando escoltado pelo meu pai e os amigos dele. Tenho várias cicatrizes que sempre me lembrarão dessa moto! Veja eu não escolhi ser biker.
Na escola eu era zoado pois usava botas ao invés de tênis de marca, com 8 anos arriei o pau num coleguinha da sala e nunca mais ninguém me zoou. Nunca me conformei muito com a mesmice das coisas, de bicicleta escolhia sempre a descida mais íngreme, com a cinquentinha era sempre a rampa mais alta. Com 11 anos briguei com o motorista do busão, tive que pagar a lanterna que eu quebrei de propósito. Montamos uma gang na rua pra bater nos da Rua de trás. Entenda, eu não escolhi ser biker.
Mudei pra São Paulo, meu pai morreu nos meus braços em um acidente de trânsito de carro. Voltei toda a minha fúria para a sociedade. Brigava por qualquer motivo, freqüentava os botecos mais sujos e o puteiros mais desgraçados. Não me conformava com o mundo com a sociedade, não me encaixava, mas mesmo assim acredito não ter escolhido ser biker.
Com 18 anos, já trabalhando direcionei toda a minha energia e comprei minha moto. Aí tudo ficou claro, eu nasci biker!!! Tudo o que eu passei antes serviu pra moldar quem eu sou! Fortalecer minha hombridade, meu senso de respeito e irmandade. A moto que eu comprei? Igual a que o melhor amigo do meu pai tinha quando eu era criança uma “enorme” CB400. E comecei a rodar, a viajar, a consertar a minha moto. E me dei conta de que não era a moto que tinha me feito um biker.
Por isso que não adianta o cara comprar uma máquina, amarrar uma bandana na cabeça e achar que agora ele é um temido biker. Veja o verdadeiro biker já nasce diferente, além disso a criação dele, a educação, as amizades, tudo influencia na construção do indivíduo. E outra, pra um verdadeiro biker ter a moto não é suficiente, ele quer conhecê-la desmonta ela inteira, passa raiva, dá nome pra ela.
E assim eu comecei, xucro, rodando sozinho, pegando chuva, frio, fazendo amigos, ganhando confiança, passando confiança. Fazendo mais amigos. Na estrada o cara vai criando uma carapaça que endurece o couro e fortalece os princípios, e assim eu segui aprendendo com os mais antigos, ouvindo as histórias deles e fazendo a minha própria história pra amanhã ter o que contar se alguém tiver a humildade de ouvir esse simples biker.
Ser biker não é ser bom de briga, ou ter uma grande moto e um diploma do Iron Butt Association. Ser biker é ser simples, é precisar apenas de um teto de posto de gasolina e uma coberta pra dormir, é saber que com 6 chaves desmonta-se uma moto e saber também quais são essas chaves. É ter uma moto que o satisfaça, que reflita quem ele é por dentro, e que sempre esteja em condições de rodar. Afinal andar de outra coisa que não seja moto é de doer!
Eu acho triste que os conceitos do verdadeiro motociclismo estejam se perdendo e que cada vez menos os jovens dão atenção aos bikers. Que hoje os motociclistas estejam mais preocupados com o cromo e com a marca da jaqueta do que com a poeira e o vento das estradas. Eu sofro ao ver a proporção entre bikers e motociclistas se inverter de forma tão vertiginosa. Me preocupa ver o Estado criando leis restritivas que quase impedem a nós bikers de vivermos nosso estilo de vida. É como disse o autor, o mundo vai ficar muito mais sem graça quando o último biker cair.

Um comentário:

Dan disse...

Muito bom, Lixo. Falou muita coisa que muita gente precisa saber.